Tenho cá minhas convicções. Se a vida fosse uma roda do leme, um timão, regida pela Deusa Fortuna, eu não desperdiçaria esforços. Seria melhor me lançar ao mar, fazer figa e curtir o bronze. A benevolência da vida está no livre arbítrio, onde timoneiros lutam bravamente pela roda do leme, de vez em vez, pela mesma roda, uns se esforçando a bombordo, à esquerda, outros a estibordo, à direita.
Estou convicta de que Juan Martin del Potro concorda comigo e discorda comigo quando o Paulinho da Viola insiste: “não sou eu quem me navega, quem me navega é o mar”. Se o argentino fosse do barco dos quem se entregam à fortuna, provavelmente, não teria conseguido seu primeiro Master 1000 no último domingo, em Indian Wells. Uma partida à flor da pele, à flor do mar – há quem possa sustentar que por causa da Lula Colossal, personificada na figura do juiz de cadeira, e das lesmas marinhas, os juízes de linha. Os timoneiros deste último domingo não são amadores, pelo contrário, então, vou com a nossa nau para outros mares.
Na primeira etapa, o argentino mostrou que além de timoneiro do veleiro ele era o tático, aquele que dita o que fazer durante a regata, para onde ir e o momento certo de fazer as manobras. Sempre atento às mudanças do vento e das direções, del Potro manteve o primeiro serviço na proa, e não encurtou o braço – também pudera, com a bola vindo toda erótica na altura da cintura, curta e atenciosa, o jeito era entrar na quadra, se ajeitar, e disparar winner.
Dividindo o mar com o argentino, o suíço, todavia seu barco estava um tanto quanto fora da curva. O seu tático, creio, tirou umas férias, e o seu trimmer, aquele que faz a regulagem das velas, falhou no apertar ou folgar das velas, e não houve o melhor aproveitamento do vento com os ângulos da velejada – Federer teve um pífio aproveitamento de segundo serviço, muitos erros não forçados e suas winners deram as caras mais por conta de seu imensurável talento. Difícil entender o porquê não abaixar a bola, principalmente, na direita daquele imenso mastro, com slice, e atacar o revés do argentino com a mesma persistência que o seu próprio revés era facilmente atacado.
Na segunda fase da velejada, o suíço resolveu tirar seu navegador da sala de navegação e o pôs no convés, e acertadamente, começou a fazer o barco adversário bailar um pouco com o mar, de um lado para o outro, a enfrentar algumas ondas mergulhantes na arrebentação. Virando sempre à estibordo na corrida, o barco argentino se desviou da linha de chegada, permitindo pura emoção a quem assistia a prova final na orla. A secretária do veleiro argentino, responsável por liberar e prender os cabos, escotas e adriças, se distraiu com a barba do suíço, naquele momento de fora, não mais de molho, e os stopers falharam como freios – a confiança do argentino transbordou e seu timão exagerou na direita, perdendo a chance de beijar a linha da glória.
Na última jornada, os veleiros estavam lado a lado. O barco suíço conseguia sobreviver com o navegador ainda no convés, se virando para fazer bem a função do tático. No barco argentino todos os velejadores cumpriam de modo irrepreensível seus papéis. E eis, que numa tormenta repentina, o proeiro suíço abriu a vela na hora certa e estufou o peito para cruzar a linha de chegada, bastava o timoneiro manter a roda do leme firme, em linha reta. Entretanto, o timoneiro suíço acostumado a vencer se permitindo manobras surpreendentes, falhou em duas oportunidades evidentes. Choke under Pressure?! Um dos meus caros confrades me garante que não. Ainda não estou convicta como meu confrade. Duas bolas lances depois no pé da rede e um tie-break com alguns erros questionáveis, sugere-me que a falta de confiança percorreu a Vela Mestra do nosso amado Mestre.
Martin tratou de conduzir merecidamente seu barco à vitória. Os fãs do Tênis estão em êxtase. É muito bem vindo ao circuito o regresso de del Potro em alto nível. Ele que não se conformou, tampouco se acomodou com suas contusões e com as análises de alguns especialistas de que ele não voltaria a jogar um Tênis competitivo, entre os maiores. Potro mostrou que com força de vontade, trabalho duro e confiança a Fortuna é só um pretexto dos malsucedidos ou dos que não se lançam ao mar.
Colunista: LuA Linhares